O futuro da indústria do tabaco
O cerco aos fumantes pode até estar se fechando, Mas, entre mortos e internados, vender nicotina ainda deve ser um negócio lucrativo por muito tempo
por Tarso Araujo Parte 01
O americano James Albert Bonsack criou em 1880 a primeira máquina de enrolar cigarros. Capaz de fabricar 100 mil unidades por dia, ela seria também uma das maiores máquinas de dinheiro e morte da história. Segundo o Atlas do Tabaco, da American Cancer Society, a indústria que nasceu desse invento fatura cerca de US$ 500 bilhões por ano vendendo 6 trilhões de cigarros — formato de 96% do tabaco produzido no mundo. No século 20, o tabaco matou 100 milhões — quase o dobro das mortes da Segunda Guerra Mundial, conflito mais sangrento da história.
Mais de meio século passaria até percebermos o aspecto letal desse novo mercado — ainda assim, sem conseguir conter a epidemia que se alastrava rapidamente. Na década de 1960, quando o elo entre fumar e morrer começou a se tornar conhecido, o cigarro já era um grande negócio, e os fabricantes reagiram com sua famosa trama de desinformação, mentiras, lobby e propaganda para manter as vendas em alta. Além disso, a nicotina vicia — e apenas saber disso não é suficiente para parar de fumar.
Em 2007, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ratificou sua primeira convenção internacional: a Convenção Quadro para o Controle do Tabaco. Ela orienta a implementação de medidas já testadas com sucesso, como áreas livres de fumo, restrições de propaganda e advertências sobre os males do tabaco. Mais de 170 países assinaram o tratado, mas a maioria está longe de seguir as recomendações. O Brasil é uma exceção — somos referência para o controle de tabaco, e por aqui o consumo está em queda desde a década de 1990. Nos Estados Unidos, há até estudo recente de uma vacina que bloqueia parte da nicotina antes de chegar ao cérebro. Talvez por conta dessas coisas, tenhamos a impressão de que o hábito de fumar está com seus dias contados. Você verá que isso é uma ilusão.
O número de fumantes ainda cresce, e a OMS estima que pode pular de 1,3 bilhão para 1,5 bilhão até 2025 se as medidas de controle não forem globalizadas. Um estudo americano de 2001 estima que, no primeiro quarto deste século, o cigarro deve matar 50% mais pessoas do que em todo o século 20. Os fabricantes têm ações em alta na bolsa de valores e seus lucros batem recordes. E antes que o cigarro como conhecemos acabe, ele terá se transformado em outra coisa. Talvez não exista fumaça no futuro do tabaco, mas certamente ele não será feito de cinzas.